Entrevista Maria Stela Santos Graciani

1.Como o Programa Integração AABB Comunidade contribui para o desenvolvimento socioeducacional dos participantes e das comunidades participantes?
Stela:
 O processo de desenvolvimento socioeducacional visa contribuir em várias esferas, através de seu projeto político pedagógico, onde se encontram os princípios e diretrizes de uma educação libertadora, capaz de propiciar a transformação social.

Em relação as crianças e adolescentes, este processo constitui-se no alicerce para a construção da identidade, da personalidade e do caráter, visando a inserção sólida de uma cidadania emancipatória, participativa, criativa e crítica, em sua realidade social.

A proposta educativa gera o desenvolvimento da auto-estima, autovalorização, podendo constituir-se numa semente do futuro de vida, que poderão delinear-se ao longo da convivência familiar, grupal e comunitária. O acesso democrático a cultura, ao esporte, ao lazer, ao lúdico e as artes de modo geral são aspectos educativos favorecedores de prevenção e promoção de posturas e atitudes empreendedoras e protagônicas, hoje e no futuro do grande contingente que freqüenta este tipo de pedagogia que dá possibilidade da autodescoberta, da criação e a realização pessoal e social de cada um e de todos.

2.Como a assessoria pedagógica do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC São Paulo contribui para os avanços do Programa?
Stela: O Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-SP, enquanto Universidade, cumpre seu papel social inserindo-se na realidade para contribuir com o saber científico e técnico acumulado ao longo da história, para projetos ou programas com crianças e adolescentes, formando e capacitando os Educadores Sociais de maneira interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, respeitando as variadas dimensões dos saberes populares, seus valores, culturas, e guardadas as especificidades regionais de cada canto e lugar do Brasil.

A proposta pedagógica socializada e compartilhada com inúmeros educadores sociais, representantes institucionais, baseia-se no legado da filosofia freireana, proposta e efetivada como contribuição à transformação social, entendendo educação como prática de liberdade: que parte da realidade do educando, sistematiza seus conhecimentos e volta à prática para transformá-la, através de mudança das relações pessoais, dos grupos e das classes sociais.

Munidos da construção coletiva de várias linguagens lúdicas, valoriza-se o brincar, o brinquedo e as múltiplas brincadeiras deste imenso universo juvenil, onde o teatro imita a vida, o boneco se transforma em ser humano, a ciranda mostra o dinamismo próprio destas idades, além da poesia e do contato que rompem o silêncio expondo as diferentes condições da vida alegre ou triste, desafiadora, mas que é enfrentada com audácia, tenacidade e perseverança, da esperança teimosa do povo digno espalhado pelo território nacional.

O caminho se faz ao caminhar, se divertindo e sorrindo eternamente, mas aprendendo limites e regras societárias com respeito, dignidade e justiça. Portanto, a concepção metodológica construída coletivamente, dialoga, cativa, acolhe ternamente e media conflitos em situação de embate nas várias relações vividas com o grupo de educadores sociais, sócios das AABBs, com as famílias, conversando na escola. Enfim, tentando melhorar a qualidade de vida de todos os participantes.

Esta matriz curricular norteia a teoria e a prática social como elos ligadores da ação educativa, sejam na Formação Inicial dos educadores sociais, nos textos e contextos da Formação Continuada e permanente a distância, onde percebemos os entraves do processo educativo ou quando fazemos uma pausa de 2 em 2 anos, para refletir sobre os desafios pedagógicos do dia a dia, quando avaliamos o processo nos Encontros Pedagógicos ou quando introduzimos conteúdos novos e necessários para a ampliação dos horizontes de nossos sonhos, como o Programa Olhos N’Água.

3.O Programa está fundamentado no ECA. Como ele influencia as Políticas Públicas?
Stela: A pedagogia de direitos, baseada no Estatuto da Criança e do Adolescente, epicentro do Programa, considera e reconhece os participantes como sujeitos dos direitos fundamentais, como atores sociais construtores da história como prioridade absoluta no atendimento da saúde, educação, lazer, esporte e profissionalização, com visão na ética universal circunscrita na consciência planetária do meio ambiente onde se vive e convive.

Todos programas das AABBs são registrados nos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, e tem contato com os conselheiros tutelares da cidade, além de participarem da rede social de retaguarda de atendimento qualificado, em cada município onde está inserido.

Desta forma, com participação efetiva e democrática, tem contribuído com projetos e sugestões inovadoras e criativas para a formação das políticas públicas locais, só com idéias e ideais, mas a partir das ações concretas e agregadoras das forças vivas da comunidade.

4.O Programa adota a complementaridade escolar. Qual a diferença entre reforço escolar e complementaridade escolar?
Stela: Enquanto o reforço escolar se reduz a aprendizagem de conteúdos previstos em cada série do ensino fundamental, a complementaridade escolar vai muito além, uma vez que busca, por meio de alternativas e alterativas ações educativas que rompem as barreiras, os limites e as fronteiras de disciplinas escolares, apesar de levá-las em conta, trabalha com atividades diversificadas, que privilegiam o aprender a pensar, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver com o corpo, com a mente, com o movimento, com o raciocínio lógico, com a arte, com a estética e com a vida.

Cada criança e ou adolescente é visto como totalidade, e sua integralidade merecem dos educadores dentre outros aspectos da complexidade humana, que precisam de educação da sexualidade, dos perigos das drogas, de discussões sobre a violência, sobre a pedofilia, enfim, sobre os saberes já acumulados pelas civilizações.

5.Os educadores do Núcleo de Trabalhos Comunitários da PUC-SP recebem algum tipo de capacitação para participarem do Programa? Qual? E que perfil é necessário aos educadores?
 Stela: A proposta do NTC-PUC-SP se vincula a formar quadros de profissionais competentes e qualificados, não só no âmbito da Universidade, como a partir de sua intervenção social na realidade. Para tanto há necessidade de um preparo anterior muito sério e profundo, onde cada um vai conhecer as teorias e as práticas dos diferentes saberes, para poder com segurança, desenvoltura e aprofundamento assumir o papel de formador dos formadores do Programa.

O mais importante desta empreitada é que temos uma contribuição a oferecer, traduzida pelo compromisso social que cada universitário porta, é a visão crítica sobre a realidade socioeconômica e política, nacional e internacional, é a responsabilidade social que assume com cada participante dos cursos que ministra, como grupo e como Projeto Político Pedagógico do Programa Integração AABB Comunidade.

Nós consideramos parte integrante do êxito e do sucesso de cada criança e adolescente incluído nas atividades, nos consideramos parte dos agentes da transformação gerada por todas as AABBs e sabemos que este é o mais importante Programa de complementaridade escolar do país, não só pela  abrangência territorial, mas pela qualidade do serviço prestado.

Temos paixão pelo que estamos fazendo, pensando e projetando, para cada passo dado, uma nova semente vai germinar, por que: “a vida é um sonho, sonhando com as possibilidades da efetivação do sonhado”.

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